sábado, 4 de setembro de 2010

Antes do show de domingo, entenda o som da banda Restart

Para decifrar o Restart não basta escutar o disco de estreia da banda com atenção. Ouvir com boa vontade a música de refrão repetitivo (E hoje sei, sei, sei/Não importa mais/Porque não vai, vai, vai/Voltar atrás), que, por acaso, está no pódio das músicas mais executadas das paradas brasileiras, também não vai ajudar. Olhar com aprovação a mudança de preferência súbita de uma juventude que ontem achava melhor ser triste e que agora quer ser alegre, talvez também não seja o caminho. Surpreender-se com o fato de que uma das bandas mais requisitadas do showbusiness brasileiro seja formada por garotos que mal atingiram a idade mínima para tirar a carteira de habilitação também é tiro na água. A verdade é que o fenômeno das calças coloridas, dos tênis sneakers e dos óculos wayfarer não se entende. Assimila-se.

Foi no colégio, aos 8 anos, que os paulistas Pe Lu, Pe Lanza, Koba e Thomas se conheceram. Hoje, aos 18 (recém-completos por alguns), o Restart se firmou como precursor do chamado “happy rock”, cujas premissas são bem diferentes das seguidas pelo “emo rock” feito por bandas como NX Zero e Fresno. Enquanto o emo rock levanta a bandeira do “quanto mais sofrido, melhor”, o happy rock aconselha a moçada a seguir a vida com um sorriso no rosto quando alguma coisa não sai como o esperado. “Gostamos de propagar a alegria no nosso som”, diz Pe Lu, vocalista e guitarrista. E os pais não têm reclamado do som inofensivo feito pelas bandas coloridas: “Quando minha filha escuta Restart, não me preocupo se a música tem palavrões ou expressões de baixo calão”, diz Ana Maria Verato, mãe de Elisa Verato, de 15 anos, fã da banda.

VERSÃO 2.0
Se você olha para bandas como Restart e Cine e tem uma vaga lembrança dos dançantes Backstreet Boys ou da banda que revelou Justin Timberlake, o N’Sync, não se julgue equivocado. A popularidade do Restart remete diretamente a esse fenômeno ocorrido nos anos 1990, o das “boy bands”. As tais bandas pop formadas por integrantes jovens e bem-apessoados viveram dias de glória há algum tempo e colocaram os garotos do Backstreet Boys e do N’Sync no patamar dos artistas que mais venderam discos do milênio. Para ter uma noção, o disco Backstreet’s back vendeu 30 milhões de cópias ao redor do mundo e o No strings attached, do N’Sync, 15 milhões.

Há duas semanas, o Restart recebeu o disco de ouro pelas 50 mil cópias vendidas do seu disco de estreia, uma quantidade inexpressiva se comparado aos números astronômicos das boy bands de outrora. Apesar disso, esse é um valor que não deve ser desprezado. Muito pelo contrário. A verdade é que não se compram mais discos como se comprava há 10 anos, já que as facilidades proporcionadas pela internet fizeram com que a venda de álbuns caísse consideravelmente. A própria marca do disco de ouro caiu de 100 mil para 50 mil cópias. Ou seja, há 10 anos, o Restart não receberia o prêmio pelas boas vendas.

Embora a era dos CDs esteja em baixa e os arquivos MP3 reinem absolutos nos iPods, essa questão pouco afeta no lucro que os artistas têm com a fama conquistada. Mesmo que não tenham controle sobre a quantidade de músicas baixadas e não ganhem um centavo para fazer a alegria dos MP3s players, o Restart vem lucrando bastante com a fama. Além dos shows, a banda acaba de entrar no mercado do licenciamento de produtos, com previsão de faturar até 40 milhões de reais em vendas. “Vamos estampar pastas, fichários, revistas, álbuns de figurinhas e conteúdo para celular com previsão de lançamento para até o fim do ano”, declara Pe Lu. Difícil é tentar calcular quantas calças coloridas e tênis de cano médio os garotos conseguirão comprar quando botarem a mão na grana.

P$%#$* QUESTÃO DE PONTO DE VISTA
Se até a bem pouco tempo atrás, o Restart abria shows de bandas mais conhecidas pelo público teen. Hoje, Pe Lu, Pe Lanza, Thomas e Koba são a atração principal de qualquer evento de que participam. Uma das razões que levaram a banda ao estrelato em tempo recorde foi, com toda certeza, a confusão ocorrida em uma tarde de autógrafos em abril deste ano em uma livraria paulistana. Devido ao volume de fãs que se acotovelavam (eram cerca de 3 mil pessoas), o evento teve de ser cancelado, causando muita revolta e choro nos presentes, que estavam há horas na fila.

Entre os milhares de fãs indignados, uma delas se destacou. Ao aparecer chorando e dizendo palavrões sem sentido em um vídeo, Geórgia Massa, de 16 anos, se transformou em celebridade virtual. A frase de Geórgia ficou no Trending Topics, do Twitter, por semanas, e o vídeo que mostrava a menina aos prantos foi um dos mais vistos no YouTube durante bastante tempo. Nessa brincadeira, até quem nunca tinha ouvido falar de Restart acabou se perguntando qual banda causava tanto furor entre os adolescentes. E, desse jeito, a fama só aumentou.

Apesar do toque de comédia que a mídia deu ao ocorrido, a família Restart ficou bem chateada: “A situação foi ruim e ficamos tristes por decepcionar tanta gente. Mas o cancelamento era necessário. O lugar onde seria a tarde de autógrafos não oferecia espaço nem segurança suficiente para a quantidade de pessoas que apareceram. Fomos pegos de surpresa”, declara Pe Lu, ao mesmo tempo que afirma ter achado exagerada a projeção que a mídia deu ao vídeo.

GAME OVER?

Com seu lugar bem definido no cenário musical contemporâneo e dividindo opiniões por aí, os integrantes da banda Restart dizem não ter medo do dia em que o sucesso diminuir ou acabar. “Não nos prendemos em números. O que importa é viver um dia de cada vez e curtir nosso sonho, que está sendo realizado.” Com as críticas, a posição da banda é praticamente a mesma: “O que vemos são críticas descabidas de pessoas que sequer ouviram o nosso som. Nesse caso não é crítica, e sim falta de respeito”, dispara o vocalista e guitarrista.

No próximo domingo, os garotos se apresentam no Chevrolet Hall, em um show só deles. Na última vez que a banda se apresentou na capital mineira, dividiu o palco do Music Hall com outros cinco grupos, e a atração principal da festa era a banda Cine. “Não é questão de ego, mas esse show é mais um resultado do carinho que os fãs têm pela gente. Confiamos muito na Família Restart, eles estão do nosso lado em qualquer situação.”

E a supracitada Família Restart parece mesmo ser volumosa. No Orkut, a comunidade da banda conta com quase 500 mil membros, deixando visível a adoração dos jovens pelos músicos. Talvez o sucesso dure apenas até os fãs completarem a maioridade e começar a buscar mais revolta para alimentar os ouvidos. Isso é difícil de prever. O fato é que “se cada geração tem o ídolo que merece”, a geração Restart deve ter se comportado muito bem.